Dúvidas frequentes em reumatologia pediátrica. Por Dra Gleice Clemente

Dúvidas frequentes em reumatologia pediátrica. Por Dra Gleice Clemente

Dra. Gleice Clemente esclarece dúvidas em reumatologia pediátrica

Dra. Gleice Clemente, médica do setor de reumatologia pediátrica da UNIFESP, esclarece as principais dúvidas em reumatologia pediátrica. Fique atento.

1. Criança tem reumatismo?

R: Sim. Muitos acham que o reumatismo ocorre apenas em adultos e idosos. Essa crença se deve ao fato de doenças como artrose (degeneração da cartilagem articular) e osteoporose (perda de massa óssea com aumentado risco de fraturas), serem muito frequentes na população mais idosa. Porém as doenças reumáticas vão muito além disso, sendo a inflamação o mecanismo principal das reumáticas presentes nas crianças e adolescentes.

2. Meu filho tem muita dor nas pernas após fazer exercícios. Preciso afastá-lo das atividades físicas?

R: Geralmente não é necessário afastá-lo das atividades físicas porque muitas dessas dores são decorrentes do que chamamos de “dor de crescimento”, que é uma condição benigna.  A orientação nesse caso é justamente estimular a atividade física para quebrar o ciclo da dor, juntamente com outras intervenções não medicamentosas. Entretanto, é necessário realizar uma investigação diagnóstica para excluir outras causas de dor nas pernas, antes de se estabelecer o diagnóstico de dor de crescimento.

3. O que é artrite?

R: Artrite é a inflamação da articulação. Essa inflamação pode ser secundária a várias causas como: infecção, doenças inflamatórias imunomediadas, doenças autoinflamatórias, leucemia, trauma, entre outras. Ela é caracterizada por derrame articular ou pela presença de pelo menos dois dos seguintes sinais: dor, inchaço, calor e vermelhidão local. O tratamento da artrite é realizado na dependência da sua causa.

4. As mãos do meu filho ficam roxas quando o tempo está frio. Como devo proceder?

R: Esse arroxeamento em mãos e pés à exposição ao frio chama-se fenômeno de Raynaud, que pode ser fisiológico/primário (não relacionado à doença) ou patológico (secundário à doença, geralmente doença auto-imune ou imunomediada). Após as doenças que cursam com Raynaud serem investigadas e excluídas, é recomendado manter o aquecimento constante das mãos, como: evitar colocar as mãos em água fria, abrir geladeira o mínimo possível, usar sempre luvas e meias.

5. Meu filho tem FAN+. Ele tem lúpus?

R: Não necessariamente. A presença do FAN isoladamente, sem sintomas ou outros achados, pode ocorrer em crianças saudáveis. Estudos revelam que 13% das crianças saudáveis tem FAN+ e isso não significa doença. Porém uma investigação inicial, e em alguns casos, o acompanhamento periódico é de suma importância para afastar lúpus ou outras doenças que apresentam FAN positivo.

6. O meu filho colheu um ASLO que veio positivo. Ele precisa tomar benzetacil?

R: Os pacientes que tiveram um diagnóstico de febre reumática bem estabelecido e que tem ASLO elevado precisam fazer as aplicações de benzetacil a cada 21 dias. No entanto, algumas crianças tem ASLO elevado sem quaisquer manifestações de febre reumática. O ASLO é um anticorpo que é produzido após a exposição à bactéria que dá infecção na garganta (estreptococo), ou seja, ASLO elevado significa contato com essa bactéria, o que é uma resposta natural e esperada do nosso organismo.

6. Inflamação no olho pode ser reumatismo?

R: Algumas doenças reumáticas cursam com inflamação no olho. O local mais comum dessa inflamação é a úvea, que costuma estar inflamada por período longo e necessita de terapia local e muitas vezes de terapia oral, subcutânea ou endovenosa.  Uveíte é a denominação para a inflamação na úvea e se caracteriza clinicamente por vermelhidão e turvação visual, mas em algumas situações ela é assintomática e percebida apenas no exame oftalmológico de rotina. Se não tratada, pode levar a sequelas como catarata e redução da acuidade visual. Dentre as doenças reumáticas, a artrite idiopática juvenil (AIJ) é a que mais cursa com uveíte. A uveíte da AIJ não costuma dar sintomas, sendo necessárias avaliações oftalmológicas periódicas durante o seguimento da doença para detecção precoce da inflamação e tratamento adequado.

7. A criança com doença reumática crônica precisa tomar remédio para o resto da vida?

R: A resposta é: depende da doença que ela tem, da gravidade do caso e de alguns outros fatores relacionados à doença e à criança. Na AIJ (artrite idiopática juvenil), doença reumática crônica mais frequente na infância, aproximadamente 50% dos pacientes entram em remissão da doença (ficam sem doença ativa), ou seja, conseguem ficar sem usar as medicações ao longo da vida. Em alguns pacientes, a doença volta a ficar ativa e é necessário o retorno da medicação. Entretanto, o mais importante durante o acompanhamento desses pacientes é detectar a atividade da doença o mais precocemente possível para reintroduzir as medicações e evitar que a inflamação persista por muito tempo e ocasione dano articular permanente. O objetivo com as novas medicações é manter as crianças em pleno vigor físico e emocional e contribuir para que tenham uma vida adulta saudável.

Algumas dessas doenças estão mais detalhadas nos artigos.

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Dra Gleice Clemente - cbr 2019 - Congresso Brasileiro de Reumatologia