A síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica temporalmente associada à COVID-19 é uma doença que se manifesta por febre, comprometimento de órgãos e inflamação intensa. As manifestações clínicas mais frequentes nesses pacientes são diarreia, vermelhidão na pele e nas mucosas e inflamação do músculo cardíaco, além da febre. É uma síndrome decorrente de uma resposta tardia e inadequada do sistema de defesa do organismo ao SARS-CoV-2 (vírus causador da COVID-19), e ocorre após algumas semanas da infecção pelo vírus.
Como surgiu a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica?
A síndrome foi relatada pela primeira vez após a chegada da COVID-19 na Europa, no início de 2020. Em um hospital de referência em COVID-19 de Bérgamo, na Itália, muitas crianças com febre, inflamação em pele e mucosas e exames evidenciando inflamação intensa foram internadas na UTI. Chamava a atenção dos médicos a semelhança com uma doença já conhecida, que é a doença de Kawasaki (doença caracterizada por febre, inflamação na pele e boca, conjuntivite, gânglio aumentado no pescoço e alteração em mãos e pés, que tem como principal complicação o aneurisma das artérias do coração). Em seguida, médicos da Inglaterra também observaram um aumento no número de crianças que estavam sendo admitidas na UTI com febre, choque e inflamação. A partir daí foram surgindo relatos dessa nova “síndrome hiperinflamatória” nas crianças em todas as cidades onde a COVID-19 se disseminava.
Definição da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica
Nesse momento, algumas das principais entidades médicas do mundo, a exemplo do CDC americano, elaboraram critérios de definição para doença com o objetivo de aumentar o seu reconhecimento. Essas definições apresentam em comum a necessidade de presença de febre, comprometimento de órgãos, presença de inflamação e evidência de infecção pelo SARS-CoV-2 (presença de PCR, antígeno, sorologia ou contato prévio com a COVID-19), sendo necessário afastar outras doenças que podem ter manifestações semelhantes.
Tratamento e Seguimento dos pacientes
A síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica é uma condição rara, que ocorre em algumas crianças por volta de 2 a 6 semanas após a infecção aguda por COVID-19. Apesar de rara, é uma condição grave, que leva a grande maioria dos pacientes à UTI, podendo ser fatal ou deixar sequelas, especialmente quando há atraso no seu reconhecimento.
O tratamento da síndrome inflamatória multissistêmica é realizado com medicações imunomoduladoras e imunossupressoras, quando necessário. Geralmente os pacientes apresentam uma boa evolução após a terapia, entretanto, o seguimento após a alta hospitalar é recomendado. As medicações devem ser retiradas gradualmente após a alta para que não haja o retorno do quadro hiperinflamatório, e exames laboratoriais e de imagem devem ser realizados durante o seguimento desses pacientes.
Autora: Dra. Gleice Clemente Souza Russo, médica pediatra e reumatologista infantil